19 de novembro de 2018, 15h30 – Um jato privado pousa em Tóquio. Seu único passageiro é preso pela polícia japonesa. A notícia imediatamente se espalha pelo mundo. Estamos falando de Carlos Ghosn, CEO da Nissan e da Renault, um dos executivos mais poderosos do planeta. Quase vinte anos antes, o Japão o transformara em um herói. Ghosn havia ressuscitado a Nissan. Tal proeza o elevou à condição de mito e, dessa forma, beneficiário de excessivas generosidades. Salário exorbitante, residências nababescas, móveis luxuosos, festas e recepções, até no Palácio de Versalhes, e o grupo japonês pagando por todos os caprichos de seu patrão. Os jornalistas franceses do prestigioso Le Figaro, Bertille Bayart e Emmanuel Egloff, acompanharam cada capítulo da investigação sobre a queda de Carlos Ghosn. O famoso ex-CEO, que escapou do Japão para o Líbano em uma fuga digna de cinema, segue defendendo sua inocência em Beirute, onde reside atualmente. A armadilha é o relato minucioso das circunstâncias desse momento: a prisão por suposto desfalque financeiro do todo-poderoso chefe da Renault-Nissan-Mitsubishi Alliance. Com texto claro, ágil e preciso, Bayart e Egloff descrevem com riqueza de detalhes o quadro completo dessa história cheia de reviravoltas, conspirações e ramificações; uma trama povoada de espiões e delatores, de Yokohama a Omã, de Beirute aos arredores de Paris, do Rio a Amsterdã.Os fatos apurados pelos autores apontam para um enredo bem mais complexo, e revelam os bastidores de como operam as grandes multinacionais e de como se dá o intricado jogo de poder desses conglomerados, sempre no centro dos interesses geopolíticos que regem o mundo globalizado."Carlos Ghosn fala em 'conspiração'. Preferimos dizer que foi uma armadilha. Porque nem tudo foi feito do zero. Ao se deixar confundir entre a vida privada e a pública, ao se afastar, no mínimo, das regras de conflito de interesses, Ghosn certamente cometeu erros cruciais.", afirma Egloff.Ghosn tem três passaportes – o brasileiro, o libanês e o francês –, e encarna os anos de ouro da globalização como nenhum outro executivo. Traído por alguns de seus mais próximos colaboradores, o megaexecutivo paga um alto preço por seus excessos. A Nissan organizou metodicamente sua expulsão. Sua queda mergulhou a Renault no caos e submeteu o Estado francês, acionista do grupo, às suas próprias contradições. A Aliança Renault/Nissan ruiu. Paris e Tóquio estão diante de um grande impasse que, por fim, também diz respeito aos milhares de funcionários do conglomerado empresarial.Edição brasileira inclui posfácio com os fatos posteriores à fuga de Carlos Ghosn para o LíbanoEntre os fatos revelados em A armadilha, os autores elucidam, por exemplo, a preparação por Ghosn, em 2018, de uma espécie de "fusão quádrupla" envolvendo a Fiat-Chrysler além da Renault, Nissan e Mitsubishi; ou a criação pela direção da Renault, logo após a prisão, de uma unidade de crise apelidada de "grupo laranja", destinada a responder com força ao que então foi entendido como uma declaração de guerra da Nissan.O livro se divide em três partes, além de incluir um posfácio dos autores escrito especialmente para esta edição brasileira. A primeira, "As placas tectônicas", reúne os fatos, os atos falhos e as velhas cicatrizes que irão culminar na prisão de Ghosn em novembro de 2018. As partes seguintes, "A queda" e "Jogos duplos", acompanham os acontecimentos que se seguem do outono de 2018 ao verão de 2019. Os autores narram os episódios que irão alimentar a crônica do caso (as sucessivas prisões e a libertação de Carlos Ghosn, as acusações contra ele, sua obsessão por dinheiro e a turbulência na Renault e na Nissan), revelando os interesses que estavam em jogo à época e o próprio revés da globalização naquele período.